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REVISTA LOCAWEB

m2016, a Microsoft lançou umexperimento um tanto quanto inusitado. Por

meio de uma conta no Twitter, Tay, uma inteligência artificial traduzida em

uma garota de 19 anos, deveria interagir comoutros usuários de faixa etária

aproximada para descobrir como se portar como um indivíduo da geraçãomillennial

– grupo de pessoas entre 18 e 25 anos, também conhecidos comomilleniumou

simplesmentemilênio. Qual não foi a surpresa quando, emmenos de 24 horas, a

menina se tornoumimada, nazista, ninfomaníaca e preconceituosa! Para ela, a vida

foi traduzida emuma intensa combinação de fúria, raiva e ironia.

Tay foi desligada dias após

seu lançamento, mas deixou

uma pergunta no ar: seriam

os millennials, aqueles que

estão ditando as novas regras

do mercado de trabalho e de

consumo, um bando de mimados

narcisistas? Por sorte, a realidade

passa distante da experiência da

Microsoft e aponta para outras

direções, muito mais brandas,

porém, igualmente impactantes

para os empreendedores.

“O que ocorre é que jovem

é jovem em qualquer geração. A

ansiedade e os incômodos são

iguais, nunca mudam. A diferença

é que essa safra nasceu emmeio a

um desenvolvimento tecnológico

altamente acessível e criou uma

intimidade até então incomum

com esse meio. Eles se expõem

mais, não têmmedo. E isso

choca”, comenta Sidnei Oliveira,

sócio da Escola de Mentores e

expert em conflitos de gerações.

Na prática, o contato desde

pequenos coma tecnologia fez com

que os millennials se tornassem

mais críticos. Eles consomemde

forma racional, estudamomercado,

comparampreços, raramente

usam cartão de crédito e preferem

compartilhar a possuir. Trata-se

de um comportamento forte e

oposto ao das gerações anteriores.

Isso, entretanto, não é ummero

capricho dos jovens, mas reflexo da

economia e da sociedade emque

eles foram inseridos.

DNA tecnológico

O termo “millennial” é uma

referência clara e direta às

pessoas que nasceram próximo

à virada do milênio. São jovens

que pegaram a transformação

do mundo analógico para o

digital, o que os tornou a primeira

geração com contato direto com

a tecnologia desde sempre.

“É muito comum curtirem,

compartilharem e usarem emojis.

É algo nativo. As outras gerações

apenas se adaptaram a isso”,

revela Sidnei. “Um exemplo dessa

intimidade é nunca terminar uma

conversa. Perguntam uma coisa

em um aplicativo, daqui a algumas

horas mandam outra mensagem. O

diálogo está aberto o tempo todo.”

Fora do âmbito tecnológico, é

bom lembrar que omundo passava

por uma transformação econômica

quando os millennials saíram

das barrigas de suas mamães. Na

década de 1990, o Brasil vivia a

abertura domercado. O aumento

de competitividade e produtividade

provocado pela chegada emmassa

dos importados culminou na forte

queda nos preços dos produtos

de forma geral e no consequente

aumento do consumo.

Vale destacar ainda que os

pais decidiram, exatamente nessa

época, ter menos herdeiros. A

taxa de 4,4 crianças por mãe em

1980 diminuiu para 2,9 em 1990.

Informações divulgadas pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) mostram ainda

que, em 2000, o número passou

a ser de 2,38 filhos por mulher. Já

em 2010, a taxa caiu para 1,9.

Aí, basta colocar tudo na

calculadora: acesso inigualável à

tecnologia, economia crescente,

E

De geração

em geração

Na década de 1960, o mercado

de trabalho foi invadido por

jovens que nasceram entre

1940 e 1950. Na época, houve

alta taxa de natalidade.

Foi uma explosão de bebês

que chegaram ao mundo

impulsionados pelos bons

ventos do fimda Segunda

Guerra Mundial – e do retorno

dos soldados para suas casas.

Para saber como lidar melhor

com esse novo público, a

geração foi classificada e

apelidada de baby boomers.

“Após esse fenômeno,

passamos a classificar as

gerações jovens que entravam

no mercado de trabalho

e mudavam seu ritmo. A

denominação é feita mais ou

menos a cada 20 anos, que

coincide com os grandes saltos

de comportamento efetuados

pela sociedade”, conta Sidnei.

Embora os especialistas nunca

entrem emum consenso

do período correto entre a

mudança de uma geração

para outra, é fato que existem

quatro grupos até agora. São

eles: baby boomers (1945 a

1964), X (1965 a 1984), Y (1985 a

1999) e Z (2000 – atual).

Os millennials, curiosamente,

não entramnesse balaio. A

denominação temmais relação

com o comportamento do que

com a classificação em relação

ao mercado de trabalho. Se

for levar a ferro e fogo, essa

geração se encontra entre a Y

e a Z, já que nasceu entre as

décadas de 1990 e 2000.

Inteligência

artificial da

Microsoft se

tornou um

monstro digital

no Twitter após

ser influenciada

por millennials