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Nicolle Merhy, jogadora profissional e líder do time Black
Dragons, participa de campeonatos do jogo
Rainbow Six Siege
[
ENGAJADA, A JOVEMSE INSPIRA NO
FEMINISMO E NOS ESTUDOS DA FACULDADE
DE DIREITO PARA TENTAR ABRIR A CABEÇA DAS
PESSOAS COMRELAÇÃO AOS GÊNEROS
]
APRIMEIRADA
AMÉRICALATINA
NICOLLE MERHY, CONHECIDA COMO CHERRYGUMMS, DRIBLOU O
MACHISMO. HOJE, ELA É CAMPEÃMUNDIAL DE
RAINBOWSIX SIEGE
E LIDERA UMA EQUIPE PROFISSIONAL DESSE MESMO JOGO
N
ascida no interior do estado do Rio de
Janeiro, em Teresópolis, Nicolle Merhy
cresceu em um sítio, cercada de
animais, pescaria e muito verde. Filha de pais
amigavelmente separados, a jovem de 19 anos
descreve sua infância como uma felicidade
que vai carregar para o resto da vida.
Ela foi apresentada a computadores e internet
ainda muito pequena. Com 7 anos de idade, Nicole já
sentava no colo do pai para aprender todos os truques
do jogo de tiro em primeira pessoa
Quake lll Arena
. E
apesar das limitações de tempo e internet, esse era
o botão start para ela começar a se interessar por
tecnologia. Com 10 anos, a necessidade substituiu a
curiosidade e Nicolle quis se aventurar ainda mais no
universo digital.
Em 2013, quando se mudou para a cidade do
Rio de Janeiro, teve uma breve passagem pelo
universo dos consoles, mas logo voltou às origens
quando
Quake lll Arena
voltou com uma versão para
navegador. Empolgada, comprou um computador
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e gosto pela rotina de jogo, teve certeza de que podia
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identidade Cherrygumms, Nicolle é a primeira mulher
na América Latina a disputar campeonatos de
Rainbow
Six Siege
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formado por mais cinco homens.
LONGA JORNADA
Sentada em frente ao seu computador, a lista de
ofensas que recebia somente por ser uma menina que
praticava e-sports (esportes eletrônicos) não parava
de crescer. Ao relembrar essa situação, a gamer conta
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burlar o preconceito para conseguir provar seu talento.
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Ela diz que já ouviu de comentários machistas
como “vai cozinhar, lavar a louça” até insinuações
vulgares a seu respeito. O
Quake
, game muito antigo
com quase duas décadas de existência, foi um dos
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confortável. Mesmo com um público bemmais velho
e, teoricamente, maduro, Cherrygumms não era
respeitada por ser jovem e mulher. “Ouvia xingamentos
absurdos de gente commais de 30 anos nas costas”, lembra. A situação saiu ainda
mais do controle quando as pessoas quebraram as paredes do mundo dos games
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pressão foi tanta que pensou em desistir da carreira.
De olho na situação desagradável, Leo “Zigueira”, jogador e youtuber, fez
um vídeo pedindo para que as pessoas respeitassem Cherrygumms. Agradecida,
ela publicou um vídeo desabafo para que as pessoas conhecessem seu trabalho
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mensagem de força e incentivo a todas as mulheres que passam pelas mesmas
situações. “Depois disso, passei a prestar atenção nos meus fãs e não nas
pessoas negativas.” O preconceito também está incrustrado nos campeonatos
de eSports. Ela conta que há casos graves nos quais meninas são julgadas
REVISTA LOCAWEB
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