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esvendar o código genético é uma ta-
refa tão complexa quanto entender
os efeitos da vida em sociedade para
cada membro dela. A evolução huma-
na não depende apenas da carga ge-
nética já estabelecida dentro das células de
cada recém-nascido, mas das interações e expe-
riências que cada um de nós acumulará ao lon-
go da vida – e, com sorte, servirão de combustí-
vel para grandiosas invenções.
Algumas situações funcionam como gatilhos para
despertar o “gene da tecnologia” e esses momentos
são mais bem compreendidos se olharmos para trás.
Em 1896, o engenheiro eletricista Nikola Tesla, paten-
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original que permitiu a transmissão de rádio e tevê,
tal como ainda usamos hoje. Tesla foi um homem vi-
sionário por pensar e inventar muitas outras tecnolo-
gias, como o motor de indução de corrente alternada,
responsável por iluminar o mundo com energia elé-
trica. Se não fosse por Tesla, Marcelo nunca seria um
radioamador e, consequentemente, seu sobrinho, Ro-
gerio, nunca teria frequentado feiras de radioamado-
res nem conversado com pessoas do mundo todo por
meio do transceptor, aparelho usado para o hobby.
“Para mim, Tesla é um exemplo de potência da mente
humana”, diz Rogerio.
O que ele ainda não sabia, aos 13 anos, é que outra
tecnologia chegaria a suas mãos em uma caixa cheia
de bugigangas. Embaixo de uma camada de pó, o ga-
roto paulistano descobriu que outro tio, Marcos, havia
lhe presenteado com um computador que na época já
era obsoleto e alguns manuais das linguagens Basic e
Assembly. Rogerio limpou todas as peças e conectou
a CPU à televisão de casa – o monitor usado em 1998,
no Brasil. “Tinha uns jogos bem rudimentares, vinha
com uns livros de programação e aquilo foi uma coi-
sa fascinante para mim. A partir daí, eu comecei a ter
interesse. Desmontei o computador e não entendia
nada, lógico, mas comecei a comprar revistas e livros
de informática e pesquisar na internet”. Inspirado pela
cultura dos radioamadores, que costumam montar
seus próprios rádios, o adolescente inicia um hábito:
aprender por conta própria.
Quando não estava na escola, Rogerio passava
tardes e noites navegando em sites internacionais
com a ajuda de um tradutor. Aos poucos, ele se tor-
nou autodidata em inglês. Em uma dessas pesquisas,
descobriu o primeiro volume de uma série de livros
considerada por muitos “a Bíblia” da programação.
The Art of Computer Programming
, de Donald Knuth,
lançado em 1968, estava à venda em um sebo online.
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esperando o livro chegar.” Essa obra serviu como pon-
to de partida para Rogerio tomar conhecimento de
conceitos da construção de algoritmos que lhe pare-
ciam indecifráveis. Indecifráveis até que mergulhasse
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habilidades necessárias para decifrar parte por par-
te da série de Knuth. Esse foi um processo longo e
acompanhado de uma caça ao tesouro proposta pelo
próprio autor.
Mas, antes de partir para essa aventura, Rogerio
sentiu necessidade de se posicionar sobre uma ques-
tão que já havia lhe consumido demais. Quando esta-
va na pré-escola uma das atividades era escrever as
letras do alfabeto repetidas vezes, como um treino de
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sentia Rogerio. Ele não suportava fazer aquilo. Quan-
do chegou a vez da letra “f” todos as crianças cumpri-
ram a tarefa, menos Rogerio. A exceção deve ter sido
o motivo de uma alimária professora repreender o
aluno com uma chapoletada na cabeça. Chegando em
casa, Rogerio contou sobre a agressão para sua mãe,
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como sempre, a criança não tem voz. Na ocasião, a
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por isso mesmo, mas daí para a frente eu tinha horror
de ir para a escola”, desabafa.
Nos anos seguintes, enquanto os pais de Roge-
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CAPA
“PARAMIM, TESLA
É UM EXEMPLO
DE POTÊNCIA DA
MENTE HUMANA”
Rogerio