D
epois que o Supremo Tribunal Federal
(STF) convocou uma audiência pública
para discutir os bloqueios do WhatsApp,
fiz alguns questionamentos sobre
segurança da informação que podem ser úteis a
todos. Embora o WhatsApp não tenha aberto sua
API de forma pública, há alguns esforços de
engenharia reversa, principalmente para
implementação de clientes alternativos para
plataformas não suportadas pelo aplicativo. Foi o
caso, por exemplo, do Firefox OS e do WhatsApp
Web, antes mesmo que a empresa resolvesse criar
sua própria versão.
Por meio desses esforços, foi possível
constatar que o serviço de mensagens adquirido
pelo Facebook utilizava uma API simples em
JSON, que fazia uso de criptografia HTTPS para
transmissão dos dados.
Quando o primeiro bloqueio aconteceu,
em fevereiro de 2015, a justificativa foi de que
o WhatsApp não poderia entregar os dados,
pois estavam criptografados. Caso estivessem
mesmo, só poderia ser uma cifra simétrica cujo
segredo seria conhecido pelo Facebook. Trata-se
do tipo de tecnologia usada para criptografar
um banco de dados que acrescenta uma camada
de segurança para os casos de acesso indevido
aos dados. Assim, um invasor poderia até copiar
o conteúdo da base, mas não o decifrar, uma
vez que a chave seria conhecida apenas pelo
WhatsApp.
Isso foi confirmado quando o serviço revelou
sua criptografia de ponta a ponta em abril de 2016,
o que indica que a empresa mentiu ao dizer que
não poderia fornecer os dados à Justiça. Como
o software não possui seu código aberto e as
tecnologias envolvidas são segredos comerciais,
fica impossível verificar se estava ou não falando
a verdade. Contudo, basta entender um pouco de
criptografia para perceber que o discurso não bate
com a realidade tecnológica.
Mesmo a criptografia de ponta a ponta pode
ser comprometida caso haja problemas de
implementação. Nesse caso, a segurança se resume
em onde as chaves são criadas e quem tem acesso a
elas. Se são originadas nos dispositivos dos usuários,
como é possível acessar conversas antigas em um
novo dispositivo, por exemplo? Isso só nos faz crer
que o aplicativo possui uma forma de copiar as
chaves antigas e movê-las para novos dispositivos.
Se isso for mesmo verdade, o aplicativo teria
acesso às chaves e, em consequência, ao conteúdo
criptografado das conversas.
Há muitas pontas soltas nas explicações da
empresa, o que me faz crer que não parece ter
interesse em cooperar com os órgãos de Justiça
brasileiros para não abrir um precedente que poderia
tornar a solicitação de informações algo cotidiano.
Kemel Zaidan
Evangelista de tecnologia
da Locaweb
@kemelzaidan
/kemelzaidan
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influenciador
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REVISTA LOCAWEB
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