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se destaca. Tinha pebolim na escola no ano passado.
Não tinha como vencê-lo”, diz Beatriz.
No segundo semestre de 2014, Pedro encontrou
uma universidade e um professor dispostos a ter um
aluno ouvinte que ainda tinha 13 anos e cursava o
oitavo ano. “Em condições normais o curso é dado
para o terceiro ano da graduação de Análise de Sis-
temas da Unicamp”, explicou o professor de Java 3,
André Angelis.
Para conseguir acompanhar a turma toda segun-
da-feira à noite, Pedro ponderou e interrompeu as au-
las de teclado e violino, que eram um hobby. Edilson
saía de casa em Santa Bárbara d’Oeste e levava Pe-
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daquele ano. No primeiro dia de aula, Edilson deixou
o notebook do jovem programador em cima da mesa
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– Ué, o que você está fazendo aqui?
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e comecei a programar.
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ro projeto que tiveram que desenvolver do zero foi um
jogo do Atari, chamado Missile Command. “Aí os mais
nerds da sala se juntaram e o professor falou: pode
começar.” Após 10 minutos, o grupo que parecia reu-
nir os melhores alunos anunciou:
– Ufa! Acabamos!
“Ôloco! Não estou nem na metade ainda e eles já
acabaram”, preocupou-se Pedro. Chegando em casa,
ele passou madrugadas desenvolvendo sozinho o seu
Missile Command. Na semana seguinte, apresentou o
projeto pronto.
Os tais mais nerds se espantaram:
– Ôloco, Pedro, já terminou?
– Já. Vocês não acabaram?
– Não, nós estávamos falando de outra matéria.
Nem começamos ainda esse negócio.
“Na terceira semana Pedro já se integrou muito
bem, era normal vê-lo conversando com um grupo
em uma aula, outro grupo na outra. Ele costumava fa-
zer bastante perguntas e eram bem pertinentes. Não
faltou nenhuma vez, fez todos os trabalhos e conse-
guiu aprender bem como estruturar um programa e
colocar uma linguagem orientada a um objeto numa
arquitetura boa”, avalia André.
Em 2015, Pedro completou 14 anos. Ele mal podia
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conhecida da família, Karina, que trabalhava no supor-
te técnico da Sage, mostrou o vídeo de Pedro gravado
na sede da Microsoft para Mariane, que trabalhava no
departamento de recursos humanos e levou a histó-
ULD DW« R JHUHQWH GH GHVHQYROYLPHQWR )HOLSH )HOLSH
achou “fantástico” e convidou Pedro para palestrar na
Sage. No mês seguinte, agosto, Pedro foi contratado
como menor aprendiz. “A gente teve alguns cuidados,
porque embora ele seja muito maduro, ele é uma
criança que a gente inseriu no ambiente corporativo.
Então, toda a negociação foi feita diretamente com os
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mico do que operacional, então encontrar o projeto
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Sage é uma empresa líder no mercado de conta-
bilidade integrada e sistemas de pagamento. A unida-
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C-Sharp para corrigir os códigos na lista de tarefas
da equipe de desenvolvimento em mobile enquanto
seus fones de ouvido tocam música eletrônica. Re-
centemente, Pedro testou um novo código para fazer
com que no lugar de uma tela em branco, que parece
“travada” no aplicativo da Sage, aparecesse uma am-
pulheta. Assim o usuário entende que a página está
carregando. Ele só soube que tipo de solução buscar
para resolver esse problema depois de ir para casa e
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chamou o colega ao lado, Raphael, para contar que ti-
nha conseguido resolver. A mente de Pedro não para.
“Eu sempre vou dormir um pouco tarde, mas aí acor-
do de madrugada porque estou com um problema lá
no aplicativo, por exemplo. Aí sonho com o problema,
resolvendo, acordo e, se não for lá resolver, esque-
ço no outro dia”, revela Pedro. Enquanto seus pais
e sua irmã Natalia dormem, sempre que vai para a
cama com alguma questão inacabada, Pedro costuma
desçer as escadas do sobrado, ligar o computador e
testar o programa; depois volta a dormir.
Hoje a agenda de Pedro começa com as aulas do
primeiro ano do ensino médio às 7h. Às 12h troca o
uniforme pela camisa com o logo da Sage. Seu pai
o apanha no colégio Dom Pedro II, dirige até a Sage,
onde Pedro almoça e registra pontualmente sua digi-
tal às 13h30. Às 17h30 Edilson já o aguarda no esta-
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menos às sextas-feiras, quando Pedro se entusiasma
à espera da melhor atividade do dia. Enquanto a chu-
va forma goteiras que molham a quadra de futebol,
seus olhos vibram na expectativa de que os demais jo-
gadores não sejam afugentados pelo mal tempo. Nas
manhãs de sábado ele estuda web design e inglês. Se
possível, no domingo, rola repeteco de pelada.
“Tem uma nova tecnologia que chama RealSen-
se. Ela capta se a pessoa abre a mão e fecha, pisca o
olho, mexe a cabeça, o que a pessoa fala. Então, ajuda
bastante quem não consegue usar o mouse. Dá para
fazer bastante coisa. É isso que eu quero, criar algu-
PD FRLVD TXH DMXGH GHíFLHQWHVÜ SURMHWD 3HGUR MXQWR D
uma graduação em Engenharia de Software.
Aprender a programar é um processo que exige
persistência, criatividade, pensamento lateral, auto-
QRPLD HUUR H DFHVVR ¢ WHFQRORJLD 6H XP SURíVVLRQDO
passar por tudo isso ele se sobrepõe a qualquer carga
REVISTA LOCAWEB
CAPA
Pedro na área de
descanso da Sage