entrevista
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REVISTA LOCAWEB
Que tipo de lições tiradas da
vida de atleta você procurou
adotar como empreendedor?
Acredito que o atletismo é um esporte
individual que proporciona muito
autoconhecimento. Com ele, você acaba
aprendendo uma série de valores do
empreendedorismo, como levantar, cair,
ser positivo e ter otimismo. Treinava
muito e, quando chegava na hora da
competição, eu me machucava. Meu
inconsciente me sabotava. Isso me deu
mais segurança para conhecer
como o ser humano funciona e me
ajudou a ser mais confiante no mundo
do empreendedorismo.
Você se formou em ciências
da computação em San Diego
(EUA), após ganhar uma bolsa
por ser atleta. Naquela época,
já pensava em se aventurar
como empreendedor?
Eu sou o
mais novo de dez filhos. Meu pai sempre
foi pioneiro e fundou duas cidades no
noroeste do Paraná. Na vida inteira,
ou ele tinha muito dinheiro, ou estava
quebrado. Mas sempre se recuperava.
Então, essa coisa de empreendedorismo
veio muito da minha família. Além disso,
eu sempre fui criativo e soube que tudo
é feito de altos e baixos, mas que depois
do baixo tem sempre um alto. Acho que
tudo isso deu os ingredientes para eu
empreender. E, atualmente, percebo que
eu sou muito empreendedor!
Como surgiu a ideia para
criar a Clearsale?
A Clearsale é
resultado de coincidência e espírito
empreendedor. Eu prestava serviços
de programador para o Submarino.
Entretanto, comecei a perceber que
gostava muito mais de fazer negócios do
que de programar. Saí da empresa e, um
tempo depois, encontrei a pessoa que
estava cuidando do sistema que eu tinha
desenvolvido para eles. Na época, essa
pessoa mencionou que o Submarino
estava com problemas com fraudes.
Logo me ofereci para criar uma solução,
coloquei a ideia no papel e vendi a
ferramenta para eles. Foi assim que a
empresa começou, com uma conversa,
uma proposta e um papel.
Quais foram os principais
desafios que a Clearsale
enfrentou ao longo de sua
trajetória?
Eu tive muita sorte de
ter encontrado meu sócio logo no
início da empresa. Ele me ajudou
remotamente e foi importante nos
momentos em que tivemos de
atravessar desafios. Em 2005, por
exemplo, a Clearsale quebrou. Depois,
quando ele deixou de trabalhar
remotamente e veio para a empresa,
a gente conseguiu reestruturar tudo.
Foi a grande virada. Nosso desafio
era humano. Precisávamos de gente
competente. Por isso, focamos até
hoje no desenvolvimento de pessoas
e profissionais. Hoje, já são cerca de
1.300 funcionários.
Vocês foram afetados pela
bolha da internet?
Depois que nós
desenvolvemos o sistema, eu achei que
estava rico. Tinha feito um projeto muito
importante para uma ponto.com, ramo
que estava crescendo muito. Mas a bolha
da internet nos prejudicou e, durante
cinco anos, diminuímos o ritmo. Mesmo
assim, deixamos o negócio ativo e
fechamos com empresas grandes, como
Lojas Americanas.
E quando as coisas
começaram a melhorar de
novo?
Em 2008, lançamos o serviço
de gestão total, que é nosso
carro-chefe até hoje. Além de oferecer
plataforma, analytics e big data,
assumimos a responsabilidade de
fazer o serviço por completo. As
empresas passaram a precisar cada
vez mais desse tipo de sistema. Hoje,
a Clearsale só não atende uma entre
todas as grandes varejistas do Brasil.
Quais são os principais
recursos que a Clearsale usa
para detectar fraudes?
Fraude é
um inimigo comum, pois afeta todo o
varejo. A melhor coisa para evitá-la é
ter uma grande base de dados e saber
gerenciá-la, pois se trata de algo muito
subjetivo e probabilístico. Usamos big
data, analytics e muita sensibilidade
humana para diferenciar o contexto de
cada operação.
Como funcionam essas
verificações humanas?
O
fraudador é preguiçoso. Se o site estiver
blindado, ele vai para outro. O varejo
manda todos os dados para a gente e
nós usamos a inteligência artificial para
verificar o risco de cada contexto. Mesmo
quando achamos que uma operação
é uma fraude, não a negamos de cara,
para respeitar o usuário final. Temos
uma equipe humana para analisar a
subjetividade do processo em diferentes
camadas e confirmar se a compra
realmente foi feita pela pessoa indicada.
Na dúvida, temos de ter um ser humano.
E esse é o nosso diferencial.
Quais são as expectativas
para os próximos anos?
A
meta da Clearsale é ser um player na
transformação digital do mercado
de transações financeiras. Em quatro
anos, queremos faturar R$ 1 bilhão.
Além disso, vamos nos concentrar em
ser uma empresa global e ter uma
participação maior nos Estados Unidos,
onde já temos cerca de 200 clientes.
Depois disso, particularmente, quero
trabalhar com educação e ajudar na
política para melhorar a situação do
Brasil e das pessoas.
Nosso desafio
era humano.
Precisávamos de gente
competente. Por isso,
focamos até hoje no
desenvolvimento de
pessoas e profissionais.
Hoje, já são cerca de
1.300 funcionários
O fraudador é
preguiçoso. Se o site
estiver blindado, ele vai
para outro. O varejo manda
todos os dados e nós
usamos a inteligência
artificial para verificar o
risco de cada contexto