Locaweb Edição 118

10 // entrevista // revista locaweb @revistalocaweb Você está por trás de mais de 20 negócios do entretenimento paulistano. Quais lições de gestão úteis para novos empreendedores você tira dessa experiência? Existem várias situações que vivenciei ao longo dos anos que, se eu colocasse em um livro de negócios e saísse vendendo, provocaria um choque no que se encontra comumente nas prateleiras. Para mim, ensinamentos como fazer um business plan e encontrar um público-alvo, bem como a premissa de que basta querer para conseguir, são mentiras. O primeiro passo é o empreendedor entender que nem tudo depende apenas dele. Há uma bela dose de sorte envolvida em todo esse processo e, antes de mais nada, muito estudo. Até porque, em qualquer carreira, é necessário conhecimento. E com o empreendedorismo não é diferente. Uma vez que o sucesso de um produto ou serviço não está na ideia em si, o que o torna relevante para o mercado? Para criar um produto ou serviço que impacte de verdade os consumidores, a chave é trazê-lo para você. Muita gente começa um negócio sem que ele resolva um problema legítimo. É essencial pensar intimamente no que você queira ver solucionado. Por mais excêntrica que seja essa dor, podem haver pessoas tão ou mais excêntricas que você que vão gostar da resolução. Primeiramente, é preciso entender isso para, então, usar o marketing digital a fim de descobrir onde está seu público. Isso não necessariamente se limita a um bairro ou a uma cidade. Hoje, é possível alcançar o mundo – desde que sua ideia seja realmente original. O setor de bares, boates e casas de show, inclusive, não tem nada de original, já que não faltam opções do gênero em cidades grandes, como São Paulo. Como é possível ser diferente, nesse caso, e agradar o público? Eu vendo experiência e gatilho de memória. Para entregar isso, dedico-me muito às camadas em torno do produto. Por exemplo, não importa a marca da bebida usada no drinque de uma das minhas casas. Claro, ela tem que ser de ótima qualidade, mas estou mais preocupado com o gelo, o copo, a mesa, a cadeira, a trilha sonora. Isso porque o ambiente que envolve o coquetel, na minha visão, é muito mais importante do que ele em si. Foi esse desejo de vender experiências que o levou a optar por não digitalizar os negócios, indo na contramão do mercado durante a pandemia de covid-19? Sim. Quando se digitaliza algo, o produto vira commodity. Isto é, o item passa a não ter muita diferenciação perante os concorrentes. Para mim, não há como levar a experiência de um bar ou um show para a internet. Além de não conseguir entregar exatamente o que é vivido no universo físico, não há como concorrer dessa forma com os grandes que já estão no mercado e praticam um preço competitivo. O que eu faço é artesanal. Cobro um valor que considero justo, mas que não é competitivo. Então, preferi não entrar na transformação digital, mesmo perdendo dois negócios no caminho, o Riviera e a Z Carniceria. Isso significa que, para você, o retorno financeiro não é a parte mais importante de um negócio? Nunca estou interessado no capital. Claro, dinheiro é ótimo, mas é apenas consequência. [A riqueza] não traz satisfação pessoal. O essencial é trabalhar com aquilo que te faz bem, ganhando o necessário para a sobrevivência. Mesmo perdendo dois negócios e diante da retomada cautelosa da atividade noturna, você tem planos para abrir novos empreendimentos na capital paulista? Na verdade, duas novas experiências devem sair este ano. Estou acalentando desde o final de 2021 a revitalização da boate Love Story [que passará a usar um grafismo como novo nome, o símbolo <3]. E também estou trabalhando em um negócio de terror no antigo Edifício Rolim, construído na década de 1920. A ideia é misturar game com teatro participativo e estratégias de escape room. Teremos dinâmicas para adultos, adolescentes e crianças, sendo que essa será a primeira vez que entro no universo infantil. Além disso, vou estrear um programa no Sony Channel, o “Shake in the Bar”, que será voltado para o empreendedorismo e tem lançamento previsto entre agosto e setembro.

RkJQdWJsaXNoZXIy Mzk0Njg=