Locaweb Edição 111

12 // entrevista // revista locaweb Qual é o panorama atual do ecossistema de startups no Brasil? Em 2020, além de batermos recordes de investimentos, consolidamos o Brasil como um celeiro de unicórnios [empresas que atingem valor de mercado igual ou superior a US$ 1 bilhão]. Isso mostrou um novo patamar do ecossistema, tanto que passamos a ver marcas que iniciaram como startups abrir capital na Bolsa de Valores (IPO). Exemplos não faltam, como Méliuz, Enjoei e Locaweb. Esse é um movimento inédito para o setor. Mas, ao mesmo tempo, temos como desafio o fato de esse capital não estar acessível e distribuído por todo o País. Existem regiões que não têm investidores. Além disso, há setores negligenciados, como a biotecnologia. Isso sem contar a falta de mão de obra qualificada. Como presidente da Abstartups, o que você tem planejado para superar esses desafios? Elegemos cinco áreas de atuação que vão ser prioritárias durante meus dois anos de mandato. São elas: Inteligência (produzir dados com maior qualidade e abrangência sobre o setor), Advocacy (ampliar nosso trabalho com órgãos públicos, para a construção de políticas alinhadas ao segmento), Comunidades (apoiar empreendedores e startups fora dos grandes centros do Brasil), Diversidade (trabalhar para um ecossistema mais diverso e inovador) e Formação de Mão de Obra (construir projetos para qualificar pessoas na área de tecnologia). Você apoia o Marco Legal das Startups, projeto de lei que visa regular e incentivar o empreendedorismo inovador no Brasil. Qual a importância dele para o setor como um todo? O Marco Legal vem para consolidar o ecossistema. Ele reconhece a existência das startups como um tipo de empresa inovadora e, ainda, identifica a importância de agentes desse universo, como investidores-anjo e fundos de venture capital. Logo, é um avanço para o setor ter uma legislação específica. Por outro lado, o texto aprovado no Senado Federal e que está em discussão na Câmara dos Deputados está muito aquém das nossas necessidades. Principalmente nas questões tributárias e trabalhistas, que acabaram ficando de fora. Resumidamente, avançamos alguns metros, mas precisávamos percorrer quilômetros. Não apenas para modernizar a legislação do segmento, mas também para nos equipararmos ao resto do mundo. Ainda assim, é possível dizer que o universo de startups está evoluindo, mesmo que aos poucos? Na verdade, dá para afirmar que o ecossistema de startups no Brasil vem mudando radicalmente nos últimos 24 anos, que é desde quando estou nele. À época, para conseguir investimento para a minha primeira empresa, foi preciso suar a camisa. Recebemos uma única proposta de alguns investidores- anjo, que ficaram com 80% do negócio ao oferecer um aporte de menos de R$ 50 mil. Isso é algo impensável hoje, mas até então parecia uma boa opção – até porque só tínhamos ela. Segundo suas estimativas, você já apoiou mais de 10 mil startups. Existe algum fator que essas empresas têm em comum? Ter contato com tantas startups me ajuda a observar padrões e perceber, de forma cada vez mais fácil, quais características se sobressaem entre a maioria, especialmente quando o assunto é atração de investidores. Aquelas que se destacam, em geral, têm uma equipe com qualidade de execução e capacidade de entrega, bem como um nível de liderança, visão, motivação, “sangue no olho” e competência para concretizar e executar seus sonhos. Além, é claro, de essas empresas proporem soluções relevantes para problemas muito grandes. A empresa pode apresentar todas essas características e, mesmo assim, não conseguir aporte de investidores. Existem dicas práticas que podem tornar o pitch de uma startup mais atraente? Uma dica que gosto de dar é fazer a seguinte pergunta: o que o investidor ou quem estiver assistindo ao pitch precisa lembrar depois? Como a pessoa costuma guardar pouca coisa, é importante passar uma mensagem curta e objetiva. Entenda aquilo que mais faz “brilhar os olhos”, que é único e especial em relação à sua solução, e dê destaque para esse ponto durante a apresentação. Esse ingrediente pode ser alguém da equipe que tenha anos de experiência, uma vantagem competitiva importante, a tecnologia em si... Independentemente do fator, os empreendedores devem entender e exaltar os pontos fortes que têm. Em uma visão mais macro, você acredita que há espaço para o empreendedorismo brasileiro no exterior? Existe um ditado que diz: “O Brasil não é para amadores”. Para empreender por aqui é preciso ter bastante resiliência e “jogo de cintura”, o que faz com que o brasileiro tenha muita competência para contornar desafios. Essas características, inclusive, são vistas como grandes qualidades no exterior, uma vez que demonstram capacidade de adaptação do empreendedor. O problema é que os brasileiros pensam pouco em internacionalizar seus negócios – até porque temos um mercado interno imenso. No entanto, precisamos olhar mais para o mercado global, temos que falar mais inglês e nos manter mais abertos para o que vem de fora. Isso é um desafio. Entenda aquilo que mais faz ‘brilhar os olhos’, que é único e especial em relação à sua solução, e dê destaque para esse ponto durante a apresentação do projeto '' Foto: Divulgação

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