Locaweb Edição 110
O mundo empresarial e corporativo vive de moda. De uns bons anos pra cá, por exemplo, proliferou a oferta de conteúdos motivacionais: palestras, ebooks, podcasts, lives e mais um sem-fim de coisas sobre autoajuda empreendedora, planejamento quântico, espiritualidade dos negócios e por aí vai. Acho tudo isso meio cafona e vigarista. Motivo? A esmagadora maioria desses conteúdos é superficial, não aborda o âmago dos problemas, visa apenas emocionar e não estimula uma reflexão honesta acerca da realidade. “Palestras de autoajuda e motivacionais visam deixar você alegrinho, porque, alegrinho, você produz mais”, cravou o filósofo, professor e escritor Luiz Felipe Pondé no ferino vídeo “Por que eu detesto palestra motivacional?”, postado em 2017 em seu canal no YouTube. Quero deixar registrado, contudo (e paralelamente), o inestimável valor da motivação para o enfrentamento dos desafios. Assinalo tambémmeu grande respeito pelos profissionais que abordam o tema com a responsabilidade que ele merece. Motivação é um assunto sério e que precisa ser tratado por quem tenha propriedade comprovada. Não por “gurus”, “experts” ou empreendedores de palco. Como separar, então, o joio do trigo? Observando as credenciais de quem aborda o tema: a consistência da formação, a longevidade da carreira ou a autenticidade das vivências. Quantidade de seguidores nas mídias sociais não é referência. Ter ministrado palestras em eventos badalados, tampouco. Autoria de livros publicados, então, não garante absolutamente nada. No brilhante artigo “The Scam of Millennial Motivational Coaches”, publicado emmarço de 2018 na revista “Forbes” norte-americana (e que pode ser acessado por meio dos buscadores), a jornalista de negócios Larissa Faw esmiúça cada um dos tópicos. “Primeiramente, se eles forem autores, de que forma têm publicado suas obras?”, questiona. “Em segundo lugar, eles próprios são motivadores? O que realizaram? Certifique-se de que fizeram o ‘dever de casa’, bem como [de TRAGO VERDADES: O ENGANO DAS PALESTRAS MOTIVACIONAIS Motivação é um assunto sério e que precisa ser tratado por quem tempropriedade comprovada que tenham propriedade para] falar o que falam”, orienta. “Em terceiro lugar, é aconselhável ignorar o número de seguidores nas mídias sociais. Como um artigo publicado pelo "The New York Times" revelou, os seguidores podem ser comprados ou manipulados. Ao encontrar alguém seguido por milhares de pessoas no LinkedIn ou no Facebook, é aconselhável ficar longe”, adverte. Larissa Faw pontua ainda outras questões que, na minha avaliação, são importantíssimas: “Em quinto lugar, eles dedicaram tempo às suas formações? Você se lembra da famosa lição de Malcolm Gladwell sobre dedicar 10 mil horas para dominar um assunto?”, indaga. “Alguns ‘gurus’ sobem ao palco para cumprir seus próprios objetivos narcisistas em vez de buscar estratégias reais viáveis para ajudar o público. Uma palestra no TED não faz carreira. Encontre quem seja confiável. Não seja inspirado por alguém que tenha bebido da fonte da sabedoria genérica”, conclui a jornalista. Do alto dos meus 34 anos, aprendi uma lição valiosa: não existem fórmulas prontas. Quem fala que existem, no mínimo, é mal-informado. Seja na esfera empresarial, seja na pessoal, a vida é dura. É complicada, precária e insuficiente, mas isso não a torna menor – muito pelo contrário. Para encará-la, é preciso coragem, disposição e uma boa dose de disciplina. A motivação genuína vem de dentro. E não é com meia dúzia de palavras emotivas, que apelam para os sentimentos (e para o entretenimento), que “chegaremos lá”. Onde quer que esse “lá” fique. 18 // opinião // revista locaweb HIGOR GONÇALVES JORNALISTA, PÓS-GRADUADO EM COMUNICAÇÃO MERCADOLÓGICA E MARKETING DO CONSUMO, ESPECIALISTA EM ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO, COM MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE MARKETING. higorfgoncalves @higorfgoncalves higor.fgoncalves@gmail.com
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