Locaweb Edição 94

entrevista 12 REVISTA LOCAWEB Como você chegou ao mundo da gastronomia como profissional? Trabalhei com a minha família no ramo de automóveis por 15 anos. Sou formado em administração de empresas pela FAAP e, em 2004, decidi começar a importar azeites e vinhos. A princípio, vendia os produtos no atacado, como distribuidor. Depois de um tempo, resolvi abrir uma loja com um pequeno restaurante anexo, o Azaït, onde eu fazia harmonizações de pratos da gastronomia mediterrânea com os azeites importados. Foi um grande sucesso. Até que eu decidi abrir um restaurante mesmo, sem estar ligado ao conceito de loja. Foi assim que eu criei o Paris 6, em setembro de 2006. Qual foi a principal inspiração para a criação do Paris 6? Em todos os trabalhos que eu faço, procuro contar uma história em paralelo. No Azaït, a inspiração era o Mediterrâneo. No Paris 6, o foco é a capital francesa dos anos 1920. A minha ideia para o restaurante era contar o que foi a Paris do século passado, no início do modernismo. Esse foi ummomento em que grandes artistas plásticos, escritores e músicos que viviam lá frequentavam cafés e bistrôs locais. Inspirei-me nesses lugares para recriar essa atmosfera no Brasil. O processo de elaboração do Paris 6 Classique, a primeira casa, levou cerca de um ano – desde os estudos de campo feitos na França e a pesquisa por pratos e lugares de gastronomia histórica, até a efetiva implementação. Hoje, o menu do Paris 6 traz nomes de grandes artistas. Como ele caminhou de um cardápio típico de café parisiense para uma carta que abraçou a cultura nacional? No começo, os pratos eram uma homenagem a tudo o que vi em questões históricas nos cafés, brasseries e restaurantes parisienses. Até que, em 2008, o Paris 6 começou a apoiar o cenário cultural brasileiro. O ator Bruno Gagliasso, que estava em cartaz em uma peça, frequentava muito o restaurante durante a temporada, e um dia ele me perguntou por que eu também não homenageava artistas. Aí falei: “beleza, vamos criar um prato juntos". Então, transformei a receita preferida dele no prato Crevettes à Provençale à "Bruno Gagliasso", o primeiro item com nome de famoso no cardápio da casa. Depois, começaram a surgir outros, porque os artistas gostaram da ideia e passaram a sugerir receitas. Lembro-me do dia que o Milton Nascimento disse que gostava de escargots e eu criei a opção Escargots Bourguignons à "Milton Nascimento". E o cardápio do Paris 6 foi crescendo e se desenvolvendo naturalmente ao longo destes últimos 11 anos. Foi assim que, essencialmente, o Paris 6 deixou de ser um restaurante francês e passou a abraçar outras culturas gastronômicas? Sim, de fato o Paris 6 não é um restaurante apenas de gastronomia francesa, mas também de pratos criados a quatro mãos com os homenageados. Isso quebra um paradigma, porque o cardápio traz a culinária contemporânea, a internacional e várias outras. Mas, por outro lado, também não se pode dizer que o Paris 6 não tenha essência francesa, porque ele é 100% inspirado na atmosfera parisiense dos anos 1920. Com a história empreendedora caminhando bem, em que momento você passou a enxergar a internet para valorizar ainda mais a casa? Eu sempre fui muito ligado à comunicação. Se você perguntar qual é a minha principal característica, a resposta é que sou um comunicador. Desde o primeiro restaurante, sempre procurei criar uma relação com o cliente que o conectasse a mim e à casa. Por isso, decidi levar o modelo de comunicação tradicional para as mídias sociais. O primeiro perfil do Paris 6 nas redes foi criado no Twitter, onde fizemos um barulho muito forte. Depois, fomos também para o Instagram. Na prática, qual é a estratégia do Paris 6 para bombar nas redes sociais? No Instagram e no Facebook, de forma geral, eu trabalho com horários específicos, dentro da estratégia de fazer postagens vinculadas a um prato ou a uma ação da casa. Recentemente, desenvolvi uma nova linha e fiz uma publicação fora da programação diária, que foi superbem. O curioso é que esses posts aleatórios podem gerar ainda mais engajamento do que os planejados. Eu acredito que o diferencial da minha metodologia é que ela não é estática. Tento sempre trabalhar da forma mais dinâmica possível, fugindo do feed engessado. Esse engajamento nas redes sociais transformou o Paris 6 em febre no Brasil todo. Como isso se refletiu nos negócios? Eu fico muito feliz, porque significa que eu fui capaz de criar um lugar que conta uma história. Eu consegui atingir o Brasil inteiro com essa narrativa, a ponto de o restaurante se transformar em um destino turístico – as pessoas desejam vir a São Paulo especialmente para conhecer o Paris 6 Classique, que é a primeira casa. Isso, para mim, é uma alegria muito grande. Não me considero um instagrammer ou influenciador digital, mas sou tratado como tal. Quando me encontram, as pessoas querem conversar, tirar fotos. Isso aumentou ainda mais depois que eu comecei a usar os Stories do Instagram, nos quais consigo entregar um conteúdo mais pessoal, com uma leveza que é muito gostosa. O Paris 6 naturalmente tornou-se “instagramável”, mas, diante do seu senso comunicador, a casa foi idealizada para ser assim? O Paris 6 é um cenário. Ele é cenográfico Desde o primeiro restaurante que montei, sempre procurei desenvolver uma relação com o cliente que o conectasse a mim e a casa

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