Locaweb Edição 92

entrevista 15 REVISTA LOCAWEB estado depressivo). Aí, em meio a uma crise de depressão, desisti do trabalho e fui passar um tempo fora do País. Nos Estados Unidos, estudei literatura e, lá, entendi algumas questões, que me levaram a acreditar que a tecnologia não poderia mais me absorver. Só que, ao mesmo tempo, quando voltei para os estudos, tive a sensação de que alguma coisa estava faltando. Senti falta do dia a dia de projetos e da inovação, da possibilidade de criar a partir da tecnologia. O que você decidiu fazer de diferente para seguir em frente e conciliar o lado profissional com os anseios pessoais? Resolvi voltar para o Brasil e abrir um empreendimento. Fundei um salão de beleza, que acabou falindo um tempo depois. Era a deixa para eu voltar ao mundo da tecnologia, mas agora com mais suporte. Entendi que precisava de um consultor, um coach de carreiras, para me ajudar a descobrir em quais empresas e áreas eu poderia realmente me sentir envolvida. Fui atrás de um lugar para sentir que o meu trabalho estava realmente sendo valorizado, onde as entregas não seriam burocráticas, mas algo que teria, para valer, valor agregado. Qual lição você tirou do burnout e dessa volta por cima na carreira? Nesse processo de redescobrimento, autoconhecimento e busca por espaços menos hostis e competitivos, voltei a escrever, comecei a me especializar e a dar palestras e mentorias para profissionais. Foi assim que percebi que minha trajetória era muito similar à de outras pessoas que também se sentiam sozinhas em seus ambientes de trabalho. Esse seu redescobrimento e a inquietação com a não presença de pessoas negras nos espaços corporativos a levaram a fundar o Movimento Black Money. Do que trata a iniciativa e qual é seu objetivo? O Movimento Black Money nasceu em 2017. Ele é um hub, um ecossistema para o empreendedorismo segmentado, que tem como objetivo incentivar as pessoas a consumir de empreendedores e negócios tocados por negros, de forma geral, no Brasil. Ocorre que os negros são uma maioria empreendedora no País, mas, mesmo assim, têmmuita dificuldade em ter acesso a crédito, por exemplo. Dados da Small Business Administration (SBA), agência do governo dos Estados Unidos que oferece serviços de apoio às PMEs, mostram que nós temos o crédito três vezes mais negado que os empreendimentos liderados por brancos. Outro ponto importante está relacionado ao consumo. Só em 2017, a população negra movimentou, em renda própria, R$ 1,7 trilhão na economia, de acordo com a pesquisa Diversidade no Mercado de Consumo e Empreendedorismo , realizada pelo Instituto Locomotiva. Mesmo assim, não conseguimos fazer com que esse valor chegasse Nas palestras e mentorias, percebi que minha trajetória era muito similar à de outras pessoas que também se sentiam sozinhas no trabalho = Quando falamos em fazer circular capital entre mãos negras, não nos referimos apenas a dinheiro, mas também a questões educacionais e intelectuais

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