Locaweb Edição 83
T To be, or not to be? Uma das frases mais célebres da literatura mundial começa com o verbo mais usado na língua inglesa. Em português, no entanto, o vocábulo transforma-se em dois: “ser”, relacionado à inerência; e “estar”, que alude à transitoriedade. O primeiro remete a um estado permanente, enquanto o segundo é uma condição passageira. Equivalentes no idioma de Shakespeare, ambos têm origem, semântica e sintaxe bem peculiares na língua de Camões. O que esse papo de gramática, contudo, tem a ver com a sua vida profissional? Tudo. Há tempos, percebo que alguns profissionais não estabelecem uma saudável diferença entre ser e estar. Confundem-se com a empresa em que atuam e com o posto que ocupam, transformando o cargo e o "sobrenome corporativo" na própria identidade. Apegam-se a coisas como cartões de visita, crachás e e-mails institucionais. Pensam que são, quando na verdade, estão. Em delicados momentos de transição de carreira, como aposentadorias ou desligamentos, por exemplo, a maioria desses indivíduos, simplesmente, perde o chão. “Em um primeiro momento, a demissão me desestabilizou. Não era só um bom salário e um cargo importante em uma renomada empresa. A carreira que construí era grande parte de mimmesma. Como qualquer outra longa e consistente relação, aquela tinha ajudado a formar a minha identidade. Interrompê-la significava muito. Era a dor de perder algo que amava. A dor de ter sido rejeitada. Sofria porque, ao arrancaremmeu crachá, arrancaram junto minha pele. Estava em carne viva”, conta Claudia Giudice, que ocupou o cargo de diretora superintendente da Editora Abril, por 23 anos. Para expiar a tristeza, a ex-executiva decidiu empreender. Reinventou-se profissionalmente e transformou o plano B em sua principal ocupação. Narrou a própria volta por cima no excelente livro “A Vida Sem Crachá” (Ed. Agir), inspirando quem passou por rupturas em empresas e resolveu começar uma vida nova. “A demissão me ensinou muito. Ela me libertou da minha vaidade profissional. Ela me libertou de uma postura comportada e séria, necessária a um cargo executivo. Ela me ensinou que eu era, sim, empreendedora e que poderia voar com minhas próprias asas”, revela. Pessoalmente, sempre acreditei que cada ser humano é o seu maior patrimônio. Por esse motivo, nunca compreendi muito bem o porquê de algumas pessoas abriremmão das suas essências para estar à sombra de algo; na órbita, como coadjuvante da própria história. Achar que somos apenas o cargo que ocupamos é limitante. Ele é apenas um parágrafo, parte de um capítulo da grande obra que é a nossa existência. Por isso, saber distinguir o que somos da condição transitória na qual nos encontramos é fundamental. Eis, aqui, a verdadeira questão. Higor Gonçalves Jornalista, pós-graduado em ComunicaçãoMercadológica e Marketing do Consumo, especialista em Assessoria de Comunicação, comMBA emGestão Estratégica deMarketing @higor_goncalves higorfgoncalves @higorfgoncalves Você não é o cargo que ocupa influenciador 22 22 REVISTA LOCAWEB REVISTA LOCAWEB
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