“As mídias sociais são
ferramentas de protesto
importantes. Mesmo em busca
de pequenas causas, é possível
gerar mobilizações da massa”
Locaweb emRevista
Quando você decidiu criar
o twitter@vozdacomunidade?
Rene Silva
Antes do Twitter, já existia o jornal
Voz
da Comunidade
, que começou a rodar em 2005.
Com o passar do tempo, já em 2008, muitos leitores
passaram a usar a internet, o que nos impulsionou a
criar o @vozdacomunidade. A princípio, entretanto, só
falávamos sobre problemas ‘mais comuns’ dentro do
Complexo do Alemão. Também era ummecanismo
para pedir doações, por exemplo.
LW
Como e por que passaram a usar o Twitter
para divulgar o que ocorria depois da invasão
policial no Complexo do Alemão?
RS
Foram os próprios leitores que passaram a nos
pedir para divulgar o que estava acontecendo na favela.
Nenhum outro meio de comunicação estava cobrindo
os acontecimentos de forma tão próxima, pois não
tinham como entrar na comunidade. Então, as pessoas
só poderiam saber por nós o que estava acontecendo.
LW
Por causa do Twitter, muitas pessoas que
sequer sabiam direito o que estava acontecendo
passaram a acompanhar a invasão. Como você
encara essa repercussão?
RS
O fato é que as mídias sociais conseguem uma
repercussão inviável para outros meios. Com o jornal,
por exemplo, jamais teríamos o mesmo resultado.
Após a invasão, o nosso Twitter passou a ser acessado
até mesmo por empresas de comunicação de outros
países como fonte principal, para narrar o que estava
acontecendo no Complexo do Alemão. Com isso,
além dos jornalistas, pessoas do Brasil todo passaram
a seguir o Twitter para saber, em primeira mão e de
forma sucinta, o que estava acontecendo.
LW
O sucesso da mídia social ampliou o número
de leitores do jornal? E que outros efeitos o
Twitter trouxe para o
Voz da Comunidade
?
RS
Antes, nosso jornal era distribuído apenas na
comunidade. Hoje, ele vai para muitos outros lugares.
São cerca de 5 mil exemplares. Tudo por causa da
repercussão no Twitter. Amídia social mesmo começou
com cerca de 180 seguidores e, atualmente, temmais
de 90 mil. O site vozdascomunidades.com.br é mais
um exemplo de como os tweets foram benéficos para
o negócio. Começamos a ficar conhecidos e achamos
legal fazer o que o nome do jornal prega, ou seja, dar
voz a mais comunidades. Temos correspondentes
dentro das outras favelas que nos mandam fotos e
lw
entrevista
matérias. Eu mesmo as edito e publico. É um trabalho
do qual me orgulho e gosto muito, sem dúvida.
LW
Você conseguiu usar as mídias sociais para
ampliar um negócio, mas qual é a sua opinião
geral sobre esse meio de comunicação?
RS
Se bem utilizadas, as mídias sociais podem se
transformar em ferramentas de protesto importantes.
Mesmo em busca de pequenas causas, é possível gerar
mobilizações da massa, como vemos no Facebook,
por exemplo. Eu mesmo relatei diversos problemas
sociais, inclusive sobre a minha escola. Não há
dúvidas de que, quando algo relevante é publicado na
internet, a repercussão e a chance de chegar a órgãos
competentes é muito maior.
LW
Como você faz para manter os leitores e atrair
novos seguidores?
RS
O primeiro passo é oferecer matérias de qualidade
para os leitores, para que eles gostem do que
encontram e venham buscar novas informações depois.
O que costuma despertar interesse, principalmente
nos novos leitores, é a descoberta de fatos exclusivos,
casos singulares que ocorrem nas favelas e que não
são publicados por outros meios de comunicação.
Para manter os leitores, costumamos também realizar
sorteios para entrega de brindes, por exemplo.
Em datas festivas, como Natal e Páscoa, tentamos
encontrar alguma empresa que queira ser parceira do
projeto e então criamos as “brincadeiras” online.
LW
Qual é sua opinião sobre o caso da
fanpage Diário de Escola, em que uma garota
foi perseguida após expor os problemas
de seu colégio, mas, com a repercussão do
caso, conseguiu atrair atenção para que seus
propósitos fossem atendidos?
RS
Acho inacreditável que as pessoas da escola
dela não a tenham apoiado. Já tive a mesma atitude
diversas vezes – publicando o que de mais precário
tinha na minha escola – e todos sempre me ajudaram
muito. De qualquer forma, acho a iniciativa dela
bárbara. Ela está certíssima de reivindicar direitos. É
uma pena que os outros não viram os propósitos dela
dentro da perspectiva correta desde o início.
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