Viaje Mais 281

26 | viajeMais o vinho de talha A influência romana na produção de vinho no Alentejo resiste até hoje com o vinho de talha, ou vinho de ânfora, no qual se utiliza grandes potes de cerâmica para a fermentação e o armazenamento da bebida. Diversas vinícolas da região, como a própria Cartuxa, em Évora, resgatam essa técnica milenar e mantém parte da produção com esse tipo de vinho, que virou uma tradição do Alentejo. O vinho de talha obrigatoriamente deve ficar na talha até o dia de São Martinho (11 de novembro) do ano da colheita. Daí surgiu o ditado: “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”. Todos os anos, nesse dia, é promovida uma grande festa, onde os produtores abrem as suas talhas e apresentam suas novas produções ao público. Potes de cerâmica usados na produção do “vinho de talha”, herança dos tempos dos romanos que resiste no Alentejo Magdalena Paluchowska/ Shutterstock A cave de barricas da vinícola João Portugal Ramos, em Estremoz Ervideira fornece uma taça no início do tour para que o visitante prove os vinhos diretamente dos tanques de fermentação. A sala de degustação é um charme, com paredes de vidro e vista para os vinhedos. Todos os rótulos da casa estão expostos na prateleira e você pode escolher cinco deles para provar. Muito famoso é o Conde D’ervideiro, um “vinho de água”, que é envelhecido por oito meses no fundo de um lago a 15 metros de profundidade. “O aumento da pressão embaixo d’água modifica as características do vinho”, explica Luiz Ervideira, o proprietário. Em Estremoz, a João Portugal Ramos, de arquitetura elegante em estilo tradicional português, tem como grande diferencial o método artesanal de produção do vinho. A colheita é feita à mão e a fermentação acontece em lagares, grandes tanques abertos de mármore, onde os funcionários pisam nas uvas com roupas e botas de borracha. Não é encenação. Na sala de degustação, é possível ver os funcionários caminhando nos lagares, que parecem piscinas cheias de uva. O enólogo explica que o esmagamento suave das uvas, sem uso de máquina, “libera taninos mais redondos e melhoram a qualidade final do vinho”. Para comprovar se o método funciona, basta provar uma tacinha do Stremus, o top de linha da casa. Fotos: Tales Azzi

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