Ouro de Tolo

MAURICIO ALEXANDRE 93 frase que diz: “Aproveite cada dia de sua vida como se fosse o último, pois um dia você acertará”. A melhor descrição sobre a passagem do tempo, do anseio de desfrutar cada alegria da vida e de seu inevitável término está no fa- moso poema “Instantes”, título atribuído a sua tradução, ou melhor, variadas versões para a língua portuguesa. Podemos encontrar várias delas na internet, com algumas diferenças de conteúdo, mas sobre a mesma base estrutural. Existe uma polêmica com relação à sua auto- ria, mas é certo que o original foi escrito em inglês, tendo sido atribuí- do ao escritor e humorista norte-americano Don Herold (1889-1966) em duas ocasiões: em uma publicação da College Magazine de 1935 e, nas páginas da revista Reader’s Digest (Seleções) em 1953. Há dúvidas devido ao fato de ele nunca ter chegado aos oitenta e cinco anos como narra o poema, tendo falecido aos setenta e seis anos. Jorge Luis Bor- ges foi outro escritor que recebeu crédito pela obra, em uma tradução para o espanhol que se difundiu pela América Latina, provavelmente pelo fato de o argentino ter morrido aos oitenta e seis anos. Entretan- to, os conhecedores de Borges e de sua obra logo o descartaram, pois duvidaram que ele tivesse dado tamanha reviravolta em sua atitude perante o mundo no final de seus dias para escrever tal poema. Uma amostra de suas frases a seguir revela sua abordagem com relação à vida e à forma ranzinza como Borges a interpretava: “A vida não é outra coisa senão a morte que anda brilhando”; “Acho que fazer um exame é muito menos penoso do que ir a um coquetel. Os coquetéis são uma organização de chatice”; e a cereja do bolo: “Um cego é um prisioneiro. Há muito tempo estou cego. Comecei a ficar cego quan- do comecei a enxergar…”. Definitivamente, ele não pode ser o autor desse lindo poema que fala sobre contemplar e sentir as belezas do mundo. Por fim, existe ainda uma terceira vertente que atribui o ori- ginal em inglês a Nadine Star ou Nadine Strain, cuja existência não foi comprovada. Sem querer entrar na polêmica autoral, mas dando o devido crédito a quem quer que tenha sido seu criador, segue uma das versões em português. Esse poema foi amplamente difundido em mensagens eletrônicas e já foi até mesmo tema de capas de caderno escolar. Entretanto, permanece vigente mesmo depois de tantos anos e avanços tecnológicos, devido à atemporalidade dos fatos narrados, à simplicidade e à sensibilidade tocante. Uma leitura inesgotável que sempre nos faz bem a alma.

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