Ouro de Tolo

84 OURO DE TOLO começamos algumas atividades ao longo da vida para depois desistir logo nas primeiras frustrações. Pense em quantas vezes você tentou aprender algum idioma, a desenvolver bem alguma atividade física, musical ou esportiva e desistiu. Segundo o sociólogo e autor Richard Sennett é necessário dedicar dez mil horas de seu tempo, ou seja, cerca de três a quatro horas diárias de prática constante, para dominar plenamente qualquer técnica. Nomundomoderno, ter tempo para isso é um luxo, talvez essa seja mesmo a maior e mais verdadeira riqueza contemporânea. Nosso tempo é consumido, segundo a segundo, por tarefas domésticas, familiares e atividades profissionais, e esvaído pela tecnologia moderna, que corrói nossos preciosos minutos com as distrações da internet, seja nas redes sociais, em grupos de conversas ou em algum dos vários seriados e filmes irresistíveis que estão prontos para serem assistidos quando tivermos vontade. O mundo on-demand trouxe a flexibilidade de podermos assistir a qualquer coisa a qualquer hora, mas cobrou o alto preço de nos deixar sempre com a sensação de que não temos tempo para nada. Lembro-me de minha infância quando as opções de canais e programas eram poucas e as horas do dia demoravam a passar. Semanas, meses e anos pareciam períodos longínquos. O mundo girava mais devagar antes da internet. Era fácil conseguir arrumar tempo para estudar inglês, aprender a tocar violão, jogar bola, videogame e me reunir com a turma de amigos de escola ou vizinhos, para conversar, brincar, e interagir off-line . No mundo conectado em que vivemos, a produção de conteúdo é imensa e os processos que separavam criadores de consumidores praticamente inexistem. Qualquer um pode gerar conteúdo e divulgá- lo pela internet sem ter passado pelo crivo de especialistas, os quais costumavam filtrar e decidir o que seria efetivamente consumido pelo público, prezando pela qualidade e não pela quantidade. Talvez essa seja outra razão por sermos menos virtuosos nas artes e namúsica além da escassez de tempo. Fico pensando naqueles quadros dos grandes museus que foram pintados na Renascença ou no Modernismo e me pergunto se será possível que algum dia o ser humano volte a produzir obras de tamanha beleza. O mesmo ocorre na música. Vira e mexe penso na quantidade de canções que ouço de artistas que já morreram. Será que voltaremos a ter tantos talentos no futuro quanto tivemos no passado? Mais surpreendente ainda é descobrirmos algo novo no meio de figuras do passado. Às vezes escuto algo de que gosto e penso ser

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