Ouro de Tolo

MAURICIO ALEXANDRE 113 custos na população atingida, que busca se recuperar de danos pes- soais, materiais, financeiros e psicológicos. Apesar das dificuldades de prever catástrofes, podemos nos preparar para momentos difíceis pelos atos realizados nos períodos mais tranquilos de nossa vida. Há um ditado em inglês que diz “ save for a rainy day ”, ou seja, guardar para um dia de chuva, que nesse caso pode ser traduzido como se precaver ao estar preparado para algum possível período nebuloso. A melhor tradução dessa expressão se- ria algo como a popular fábula infantil “A cigarra e a formiga”, cuja autoria é dada ao escritor grego Esopo, tendo adaptações e versões diversas ao longo dos séculos em vários idiomas. A moderna feita pelo francês Jean de La Fontaine deu origem às demais pelo mundo afora, inclusive às em língua portuguesa, feitas por Monteiro Lobato no Brasil e Bocage em Portugal. Até mesmo Walt Disney contou essa história em 1934, em um filme de curta-metragem com oito minutos de duração, denominado “The Grasshopper and the Ants”, parte da série Silly simphonies . As versões demonstram as virtudes do trabalho nos períodos prósperos para acumular, tendo o suficiente para en- frentar tempos de escassez ou dificuldades, fazendo uma correlação entre o verão e o inverno, algo pouco compreensível para habitantes de um país tropical como o Brasil, onde as intempéries do inverno são sentidas por poucos dias por ano nas regiões meridionais do país. A fábula mostra as vantagens de se trabalhar duro nos períodos em que é possível acumular alimentos, visando estocá-los para consumo nos meses de outono e inverno, quando a terra será improdutiva, estando por vezes coberta de neve. Enquanto as formigas se empenham ao máximo em seu trabalho e armazenam para o duro inverno com foco no futuro, a cigarra preocupa-se somente com sua diversão e em con- sumir e desfrutar de tudo o que estiver ao seu alcance, como se a pri- mavera e o verão fossem eternos. Sofre posteriormente as consequên- cias da falta de alimentos e de abrigo quando já está muito debilitada pelos efeitos do inverno, tendo que recorrer à ajuda das formigas para se proteger e se sustentar. Nesse ponto, as versões parecem ter mu- dado sensivelmente com o passar dos séculos, pois originalmente a moral da história era mais trágica para a cigarra, pois padeceria em função de não ter poupado para o inverno. Há relatos que mesmo no século XVIII houve críticas à versão de La Fontaine em relação à atitude considerada pouco “humanitária” das formigas ao deixar de

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